Virginia Woolf vai ao Itaquerão
Meu marido estava
ansioso para me levar ao estádio há tempos, ele é fiel torcedor, ou sofredor
(desculpem-me o trocadilho batido). Me convidou para o programa num sábado à
noite, eu, como uma boa apaixonada, não resisti aos seus olhos de felicidade e
ao sorriso de empolgação e disse "sim".
Lá fomos nós, rumo
à outra extremidade de Palmeiras-Barra Funda, ao caldeirão de loucos na Arena
Corinthians.
O trajeto de metrô
demoraria cerca de 1 hora, nada mais justo do que levar algo para me distrair,
Virginia Woolf se encarrega da tarefa. Assim, partimos os três para o jogo que
coloca o time mais perto da taça.
Na estação da Sé,
apenas no terceiro trem encontramos espaço. Muita gente, gente que não acaba
mais, com seus mantos pretos a impor monocromia ao lugar.
Finalmente entramos
e então consigo ler algo, "A marca na parede". Ao meu lado uma garota
explica ao amigo as vantagens e desvantagens deste e daquele banco, ele
responde com conselhos óbvios sobre o que ela já sabia. O tom de voz dele é
forte, firme, deve ter quase 2 metros da altura, sua cabeça praticamente bate
no teto...As letras passam
por meus olhos e não formam nada, Dan, muda de lugar comigo. Pronto, voltei à
Virginia.
Acabo o texto e
logo avisto a luz da Arena, brilhante, reluzente e aquele mar de gente.
Descemos do metrô e
agora fazemos parte de uma multidão. Não somos apenas nós, somos uma
torcida a formar o mesmo coro:
"Corinthians, Corinthians minha vida, Corinthians meu amor, ôh, ôh". Estamos apenas no
corredor do metrô e a força desse amor contagia.
Logo atrás vejo
duas garotas com menos de 10 anos escoltadas pelos pais, não que o lugar ofereça
perigo, é apenas uma proteção para as meninas de olhos assustados se
acostumarem com essa nova forma de expressão de vida.
A onda de pessoas
se mistura aos gritos dos ambulantes, cerveja, churrasco, faixa de campeão e
vendo ingresso.
Vencemos a multidão
e alcançamos a portaria. Virginia estava dentro da minha bolsa, uma edição
pequena. A Polícia Militar me revista e alerta, "não pode entrar com livro ou papel, mantenha isso dentro da
bolsa". E lá ela permaneceu pelos 90 minutos que se seguiram.
Meu lugar é bem perto da
Fiel, cuja força é de uma beleza tão grandiosa, que é impossível negar a paixão
pelo time que bate no coração dos incontáveis brutamontes que estão por ali. Pela melodia de
Tim, eles embalam "a semana inteira,
fiquei esperando, pra te ver Corinthians, quando a gente ama, não pensa em
esforço, pra te ver jogar, te ver jogar”!
Começaaaaa o jogo e
aos 16 minutos Jadson se encarrega do primeiro gol. Explosão. Todo mundo pula, grita,
vibra, o estádio pulsa.
No início do
segundo tempo, logo nos dois primeiros minutos, o time adversário marca. Ai que
a torcida grita mais! "Hojeeeee
teremos que ganharrr!!!".
O rapaz ao meu
lado comenta, "acho que eles comeram uma
feijoada no intervalo, estão lentos!", o outro, "Aranaaaa, tá ai dentro assistindo ao jogo, meu?! Caralho, joga
porrrraaa!".
Todo mundo sofre,
uhhhh, se contorce, ahhh! De repente, 42 minutos do segundo tempo, sento porque
minhas pernas não aguentam mais e....GOOOOOOLLL!
O Danilo abraça o
cara que ele conheceu há 2 minutos, outros se cumprimentam, ninguém é estranho
ao outro, são o bando de loucos. Ele me olha,
respira com alívio e solta, "sempre é assim, sofrido, suado".
Voltamos para casa,
eu, Virginia e Dan, com a esperança quase certa de que este ano "é Campeãoooo"!
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