terça-feira, 10 de novembro de 2015

Virginia Woolf vai ao Itaquerão

Meu marido estava ansioso para me levar ao estádio há tempos, ele é fiel torcedor, ou sofredor (desculpem-me o trocadilho batido). Me convidou para o programa num sábado à noite, eu, como uma boa apaixonada, não resisti aos seus olhos de felicidade e ao sorriso de empolgação e disse "sim".

Lá fomos nós, rumo à outra extremidade de Palmeiras-Barra Funda, ao caldeirão de loucos na Arena Corinthians.

O trajeto de metrô demoraria cerca de 1 hora, nada mais justo do que levar algo para me distrair, Virginia Woolf se encarrega da tarefa. Assim, partimos os três para o jogo que coloca o time mais perto da taça.

Na estação da Sé, apenas no terceiro trem encontramos espaço. Muita gente, gente que não acaba mais, com seus mantos pretos a impor monocromia ao lugar.

Finalmente entramos e então consigo ler algo, "A marca na parede". Ao meu lado uma garota explica ao amigo as vantagens e desvantagens deste e daquele banco, ele responde com conselhos óbvios sobre o que ela já sabia. O tom de voz dele é forte, firme, deve ter quase 2 metros da altura, sua cabeça praticamente bate no teto...As letras passam por meus olhos e não formam nada, Dan, muda de lugar comigo. Pronto, voltei à Virginia. 

Acabo o texto e logo avisto a luz da Arena, brilhante, reluzente e aquele mar de gente.

Descemos do metrô e agora fazemos parte de uma multidão. Não somos apenas nós, somos uma torcida a formar o mesmo coro: "Corinthians, Corinthians minha vida, Corinthians meu amor, ôh, ôh". Estamos apenas no corredor do metrô e a força desse amor contagia.

Logo atrás vejo duas garotas com menos de 10 anos escoltadas pelos pais, não que o lugar ofereça perigo, é apenas uma proteção para as meninas de olhos assustados se acostumarem com essa nova forma de expressão de vida.

A onda de pessoas se mistura aos gritos dos ambulantes, cerveja, churrasco, faixa de campeão e vendo ingresso.

Vencemos a multidão e alcançamos a portaria. Virginia estava dentro da minha bolsa, uma edição pequena. A Polícia Militar me revista e alerta, "não pode entrar com livro ou papel, mantenha isso dentro da bolsa". E lá ela permaneceu pelos 90 minutos que se seguiram.

Meu lugar é bem perto da Fiel, cuja força é de uma beleza tão grandiosa, que é impossível negar a paixão pelo time que bate no coração dos incontáveis brutamontes que estão por ali. Pela melodia de Tim, eles embalam "a semana inteira, fiquei esperando, pra te ver Corinthians, quando a gente ama, não pensa em esforço, pra te ver jogar, te ver jogar”!

Começaaaaa o jogo e aos 16 minutos Jadson se encarrega do primeiro gol. Explosão. Todo mundo pula, grita, vibra, o estádio pulsa.

No início do segundo tempo, logo nos dois primeiros minutos, o time adversário marca. Ai que a torcida grita mais! "Hojeeeee teremos que ganharrr!!!".

O rapaz ao meu lado comenta, "acho que eles comeram uma feijoada no intervalo, estão lentos!", o outro, "Aranaaaa, tá ai dentro assistindo ao jogo, meu?! Caralho, joga porrrraaa!".

Todo mundo sofre, uhhhh, se contorce, ahhh! De repente, 42 minutos do segundo tempo, sento porque minhas pernas não aguentam mais e....GOOOOOOLLL! 

O Danilo abraça o cara que ele conheceu há 2 minutos, outros se cumprimentam, ninguém é estranho ao outro, são o bando de loucos. Ele me olha, respira com alívio e solta, "sempre é assim, sofrido, suado".

Voltamos para casa, eu, Virginia e Dan, com a esperança quase certa de que este ano "é Campeãoooo"! 

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