O machismo nosso de cada dia
(por Michelle Cristiane Silva)
É um grande desafio falar sobre o
universo feminino sem desaforar o masculino. Tarefa difícil, mas vamos lá, vou
tentar escrever minimamente.
Em tempos modernos, a mulher tem
conseguido cada vez mais ocupar o seu espaço, porém a luta diária para se
sobressair às formas mais ocultas de machismo ainda é constante.
Quem é que não
ouviu aquela frase no trânsito: “tinha que ser mulher” e o pior é ouvir isso de
pessoas próximas a você ou mesmo de uma mulher, “lugar de mulher é no fogão”.
Se tem um lugar que
não é meu, é o espaço do chão reservado ao fogão. Mas como sou, multifuncional,
trabalho bem quando sou requisitada para ficar lá por alguns minutos, assim
como o homem.
Porque o fogão não é da mulher. É
um bem móvel que compõe o interior da casa, de uso comum, tão necessário para
mim, como para meu marido, meu filho, que também vai aprender a se virar
sozinho no momento certo.
Esse movimento feminista tem
mexido comigo! Outro dia, estava observando minha identidade profissional e
nela constava advogadO. Nesse momento me questionei a razão pela qual na minha
identidade não estava escrito identidade de advogadA?
Que tal, padronizar em
todos os documentos profissionais dos advogados e advogadas a versão:
identidade de advogadA? Os homens com certeza iriam se rebelar. Mas nós não!
Estamos tão acostumadas que nem nos damos conta de detalhes como esses.
E isso não é tudo sabe?! Na verdade
eu estou cansada de ideias preconceituosas.
Vou contar um fato que me ocorreu
recentemente no trânsito. Estava indo para casa, no meu horário de almoço,
dirigindo meu carro numa mão dupla e me deparei com uma motocicleta que me
cortava pela direita. Isso mesmo, queria me ultrapassar pela direita.
Eu continuei na minha mão. Ao
chegar numa lombada (vulgo quebra-molas), pisei no freio como qualquer um faria.
Então, ouvi um sussurro: “Tinha que ser mulher mesmo!”. Na hora eu não hesitei,
baixei os vidros do carro e para minha surpresa a motocicleta era conduzida por
uma mulher. Eu, sabiamente, respirei para não me exaltar e como estávamos na
lombada deu tempo de explicar, que o correto era me ultrapassar pela esquerda,
que ela estava equivocada na sua colocação! Ela não me entendeu, mas também não
parou.
Moral da história acabou: tudo por
ali. Não alcancei meu objetivo, pois não consegui demonstrar que se fosse um
homem quem estivesse no volante, era ela quem estaria errada, se fosse um robô no
volante, era ela quem estaria errada.
Essa situação me deixou intrigada
pela constatação de que o machismo não está implantado somente nos homens, nós,
mulheres, estamos o disseminando, quando pedimos para o homem da casa conversar
com o pedreiro, o eletricista, o encanador, quando pedimos para o homem da casa
levar o carro para o conserto, para trocar o óleo.
Ora, eu posso fazer tudo
isso! E tenho exercido meu oficio feminino muito bem, obrigada! Só que eu não
sou boba, eu divido as tarefas.
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