quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Desejo ao seu ano novo
O final de ano é a época que nos invade uma onda de promessas com novas metas, diferentes posturas pela vida e objetivos desafiantes. De repente janeiro começa, fevereiro passa, e a força da rotina nos traga aos antigos hábitos, que nos levam aos lugares antes conhecidos. Eu mesma experimentei esse ciclo por alguns anos.
Pois em meados de setembro de 2014 tomei um novo conceito sobre esses marcos temporais, de início e final de “ano”, esse conceito corriqueiro de que tudo começa no dia 01.01 e termina em 31.12. Passei a observar o fluxo contínuo da vida, que não se fixa em datas pré-estabelecidas no calendário, sendo o nascimento e a morte as únicas certezas nessa nossa jornada por estes ares.
A partir de então as decisões que pediam urgência foram tomadas independentemente dos fogos de artifício estourarem no céu ou a banda de carnaval passar. O calendário reduziu sua utilidade para organizar as tarefas da semana e a viagem do mês que se aproxima.
Assim também se foi uma certa angústia que rodeava as festas natalinas, tornou-se desnecessário revisar os planos do ano anterior e conferir os tantos anseios que tinham se transmudado em nada.
Neste último texto do ano, te proponho o mesmo exercício que venho praticando: abandone as promessas de 31.12 de que você se dedicará mais ao seu amor, ou que se resolverá naquele trabalho que te esgana apenas depois do carnaval, ou que impreterivelmente em janeiro fará inscrição no curso de pintura, fotografia ou teatro que sempre quis. Faça tudo isso assim que possível e sempre.
O que sua alma pede com sutileza, aquele sonho que paira nas noites antes de dormir, dê voz a ele a qualquer época do ano. A vida pede passagem a todo tempo, seu fluxo é contínuo e ininterrupto. Que em 2016 você tenha a coragem de dar voz à sua essência, esse é o meu desejo ao seu ano novo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Em meio a dezembro

Chegamos mais uma vez nesse mês "loucura total". Desde que comecei a ter uma certa noção da vida adulta me espanta a quantidade de compromissos e afazeres que surgem em um mês de 23 dias. Não, eu não estou enganada quanto ao calendário, dezembro tem 23 dias, a partir do dia 24 não há mais nada de “útil”, no sentido de “produção” a fazer, se assim posso dizer.

Quando o calendário aponta 01.12 o celular começa a se perder com mensagens e convites para eventos, sejam familiares, de amigos ou do trabalho. Eu me questiono: por que toda essa gente não quis me ver nos 11 meses que se antecederam? Claro, muitas dessas pessoas estiveram comigo ao longo do ano, mas sempre aparecem aquelas com a nostalgia das festas natalinas a marcar o compromisso que foi adiado para a semana que vem, que nunca chegou. Aparecem em dezembro.

Sem contar o trabalho. O que era para ser feito nos últimos 2 meses deve urgentemente e impreterivelmente resolver-se em dezembro. Só comigo se apresenta essa ânsia (o que se repete nos últimos 10 anos) ou é geral?

E o trânsito então?! Confesso que estou aliviada de passar as últimas semanas deste mês longe das avenidas brilhantes e coloridas das grandes cidades.

A primeira vez que estive em São Paulo nessa época não entendia a razão daquela corrida maluca. Em grandes centros o superlativo dá suas caras com força e eu, caipira, chocada com o mar de gente a se amontoar pela Avenida Paulista para ver os bancos com enfeites de Natal. Ou o frenesi nas ruas de comércio para adquirir os presentes e tantos outros apetrechos festivos.

A sensação era de fazer parte dos filmes norte-americanos no momento em que os extraterrestres invadem a Terra ou que o tornado avança para a cidade: todo mundo sai de casa, de carro e com pressa, concomitantemente.

E ainda tem os presentes. Como vocês já sabem da minha característica de sinceridade, aqui vai uma: detesto comprar presentes nessa época. 

Primeiro porque tenho que pensar em algo para mais de 10 pessoas ao mesmo tempo, e acredito que presente marcante deve vir acompanhado de uma boa dose de cuidado, para ser algo realmente especial, o que para mim não aparece em larga escala. Segundo que não sou adepta a shoppings, a música das lojas, o tumulto pelos corredores, me dá urtiga.

Que tal transferir a troca de presentes para a primeira semana de janeiro? Brincadeiraaaa!

Mas tudo bem. Respire fundo. Estamos no dia 15, em 8 dias o mês acaba. Todo mundo se desliga, revela o amigo oculto na festa da família, come sem medo de ser feliz e prepara a listinha de propósitos para 2016! E tudo começa outra vez.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Amores tortos

Ela estava com a idade pra fazer tudo o que o corpo pede e que a mente esquece. Sem compromisso com ninguém, além da sua diversão e do libertário prazer que vez ou outra tomava conta de suas veias. O frenesi dos descobrimentos, dos desencantos e inevitáveis desamores depois de um tempo de clausura.

Ele guardava consigo seus pensamentos e levava nos olhos a doçura de observar o mundo com ternura. No revés de dizer não, mantinha uma relação que pouco lhe interessava, de modo que buscava em novos horizontes tantas completudes bastassem para seu intento.

Os dois caminhando livremente pela vida, com olhos atentos e sentidos aguçados.

Pois um dia se perceberam quase sem querer, numa festa que ela resolveu ir de última hora. Se arrumou com pressa em frente ao espelho pequeno no quarto da amiga, seguiram juntas cantarolando e rindo diante das surpresas que a noite sempre revelava.

Ele saiu com a discrição de sempre, poucas palavras, gestos contidos, respostas vagas.

Os dois estavam no mesmo local, balançando ao som dos turbulentos ritmos tropicais que despertam os instintos por vezes adormecidos nas ancas. Partiram ao encontro que iniciaria o longo trajeto de descaminhos até o ajustamento de condutas.

Ela fugia da perseguição insistente de um amigo inconveniente, ele a salvava com a delicadeza que ela ainda não tomara pra si como gesto de grandeza. Ali nasceu o primeiro olhar, o primeiro sentido para o que cada um despertava no outro, a percepção do novo, percursos assustadores que levariam a lugares por vezes sombrios e depois clarividentes.

Começaram a se amar quase sem querer naquele instante. Os amores não se anunciam, quando se nota estão instalados e sem hora marcada pra sair. Um desespero.

Foi isso o que ela sentiu depois do primeiro encontro, ao deitar-se na cama na aurora do dia, conferir seu peito e notar que algo novo além do deslumbramento: desespero.

Sim, porque de súbito se recordou da vagueza com que ele havia mencionado uma namorada dias antes. Não se conteve, enviou naquele mesmo instante a mensagem com pergunta fatídica a ele. A ausência de retorno era a confirmação que temia para os próximos dias de angústia.

Mesmo assim foram se amando, conforme o tempo permitia e sem notar o quanto um e outro iam se imiscuindo na pele alheia. A alma que se enchia daquilo que não se descreve por qualquer palavra que há no mundo, porque amor é pequeno e não cabe em tudo que viviam quando estavam juntos.

Ela também sofria, por não ser inteira da forma que sempre se acostumou a ser. Não conseguia compreender esses encontros pelos cantos, essa ausência de conversas sinceras, então resolveu dar o cheque-mate para por fim aos dias intermináveis. Ele reagiu conforme se previa, sem a correspondência do amor e ela resolveu ir embora aos prantos que demoraram a secar.

Com a beleza que tomava conta de seus olhos, logo se fez com outro amor. Ele não pôs credo na agilidade com que ela se arranjou, tratou de fazer cerca na tentativa de semear o sentimento que outrora existiu.

Ela firme não se dissuadiu, viveu o que sua índole detinha sem esmorecer. Ele ficou sentido, naquele desconjuramento de que tudo tinha se acabado.

Mas o destino prega suas peças. Pois ele terminou de vez aquele descompromisso que já não havia como prosseguir, ela foi surpreendida com o fim das paixões por aquele que guardava afeto.

De uma hora pra outra estavam de novo juntos, ele e ela, ao som da mesma música, saboreando a mesma fruta (que ele sempre tratava de levar pra ela) e aprendendo a amar mais uma vez aquele amor que pensavam ter se perdido. 

Foram se cheirando sem pressa, sem receios, sem planos ou insinuações. De repente estavam sós, suficientes, inteiros e dispostos.

Percorrem juntos esses caminhos sinuosos da convivência, do dia-a-dia, do aconchego e desatinos. Hoje ele aprendeu a reverberar com um tico de facilidade, embora o olhar de ternura permaneça em tudo que vê. Ela entendeu que ser firme não é ser dura e segue exercitando passos leves.

Não é Eduardo e Mônica, somos eu, você e tantos outros que cruzam as esquinas neste instante.

O amor nos trouxe tortos e nos fez direitos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A primavera das nossas amizades

Ainda que paire pelo ar um leve zunido de que não há amizade verdadeira entre o sexo feminino, em nossa pele sentimos algo bem diferente e a experiência tem a incrível capacidade de superar a teoria. Então espalho ao mundo que tenho amigas, de verdade, de coração, da vida.

Porque talvez a gente não corra as ruas com um megafone lardeando os pequenos e inúmeros gestos que inundam essa relação essencial para qualquer mulher. Talvez a gente divulgue a poucos os belos feitos que nossas amigas praticam por nós. Tudo isso porque aprendemos aqui e acolá que a felicidade é um tesouro precioso que deve ser guardado pelo silêncio.

Mas hoje irei quebrar a mudez que nos cala para espalhar que somos amigas, daquelas firmes, que não há inveja em nossa relação e sim compaixão, olhar que entende, abraço que acolhe, sorriso que convence.

Fundamental foi e é a amiga a nos colocar no colo, ceder seus ouvidos e conselhos no dia em que descobrimos que nosso amor não nos quer mais. Como se isso não bastasse, ela nos faz companhia por incontáveis dias, até que se convença que estamos aptas a respirar sozinhas a dor que invadiu o peito.

A amiga que nos dá carona para o trabalho, para a faculdade, para a balada e com ela desfrutamos de longas conversas, divagações vãs sobre o cotidiano que nos cerca. A filosofia do dia-a-dia, papos inacabáveis que seriam temas de livros, os quais guardamos com ternura no íntimo das nossas recordações.

Aquela que te acompanha para o show ou happy hour de última hora sem qualquer exigência que não seja a diversão.

Que te traz flores e um sorriso de conforto no dia em que sua família se parte. Te abraça com imensurável gentileza e de repente o ar é tomado pela doçura que há nos seus olhos. Minutos preciosos de calmaria em dias de mares agitados.

As que dividem as refeições contigo de segunda a sexta e ainda assim convidam para o almoço de domingo com a família, no dia das mães, dia dos pais e páscoa. Sabem que sua família original está distante, então oferecem as delas próprias, dividem o indivisível e de um momento para o outro você começa a fazer parte de um novo núcleo.

A que te salva depois das 18h, ajuda com o trabalho de última hora e as duas partem fazendo piada e rindo pelos corredores dos escritórios frios e inóspitos, aliviadas pelas longas horas do jantar que não desperdiçaram em frente ao computador.

As mensagens no celular com fotos, acompanhadas do delicioso “lembrei de você e quis compartilhar”. Os vestidos, casacos, sapatos e bolsas que emprestamos sem pestanejar. As declarações sinceras de saudade e de amor.

Amizades que nós mulheres carregamos por anos, ainda que os caminhos se distanciem.

Só posso concluir que muitos estavam equivocados, existe sim amizade entre nós, não é, minha amiga?! Nosso amor vai além de qualquer senso comum ultrapassado a respeito dessa relação pura.

Minha imensa gratidão a cada uma de vocês, essenciais para que eu enfrente esse caminho tortuoso, e por vezes doloroso, que a vida pode ser. Que também sabem rir com sinceridade das alegrias e pular com minhas conquistas. Nossa primavera não é de hoje, é de sempre.