Memórias de uma viajante
Lembro como se fosse hoje da
euforia que tomou meu coração no dia em que recebi a notícia do meu pai que
passaríamos alguns dias de férias na praia. Eu finalmente iria explorar o
parque do Beto Carrero World, que rondava as propagandas e meus sonhos
infantis.
Eu era a menina retraída de 12 anos,
que morava na Avenida São Domingos, a uma quadra do mercado Cidade Canção e
tinha ido pouco além das fronteiras do Paraná.
E lá fomos nós, cinco pessoas
apertadas e felizes dentro de um carro popular, que provavelmente não tinha
ar-condicionado. Mas esse detalhe não me importava, transpirar durante horas pelas estradas não diminuía a emoção em
viajar, conhecer novos lugares, tudo isso era maior do que qualquer temperatura
no verão catarinense.
Dessas férias vem o “fundamento”
do meu terrível medo dos brinquedos mais ousados nos parques de diversões:
gritei com tanto desespero que o barco dos Vikings parou para eu descer antes
que uma de suas pontas alcançasse o alto do céu. A partir de então meu pai
nunca mais me obrigou a entrar em qualquer outro brinquedo que eu recusasse,
não importava qual fosse o preço do ingresso do parque. Me torne a irmã mais
velha café-com-leite e o cabide oficial das bolsas e moletons.
Para mim provavelmente
essa foi a primeira viagem que experimentei a contagiante ansiedade
em me mover pelos desconhecidos lugares além das quadras do meu bairro, sensação
que me acompanha em tantas outras experiências fora dos muros do meu cotidiano.
Sim, porque se há uma
“ostentação” que priorizo são alguns carimbos no passaporte, desconhecidos
lugares pelo Brasil e novas paisagens pela mente. Sem contar o contato com
diferentes pessoas, o prazer de experimentar sabores inusitados e situações
inesperadas.
Talvez você esbarre comigo
calçando os mesmos sapatos por meses, com a bolsa que completa aniversários (e que
pode não combinar com a minha roupa), andando pela cidade de bicicleta ou com o
carro de alguém, pois até hoje não tive a coragem de gastar 1 centavo para comprar qualquer automóvel a chamar de meu. Contabilizo seu valor em viagens e desisto. Ah, mas sempre terei um novo caso a
contar do lugar que acabei de conhecer, nem que seja pertinho de casa, minha
mala está sempre à postos para seguir pelos caminhos inexplorados.
São esses lugares que me garantem
a certeza de que o mundo que construí para mim mesma, e pelo qual me aficionada às vezes, é pequeno. Que há sempre alguém feliz a sorrir, com quase nada no
bolso, um mar azul sem fim a desfrutar e nada a pagar por isso.
Lugares que recordam minha
minudez na imensidão de um deserto ou perto da queda de uma cachoeira. Que
sempre é possível dar mais um passo, mesmo depois de exausta, a descobrir outra
visão da cidade que eu pensei já ter conhecido o suficiente.
E por ai continuo me
surpreendendo com o que sempre há a revelar por esse mundão a fora, e seus
efeitos dentro deste minúsculo e insignificante ser, que sou eu mesma.
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