terça-feira, 6 de outubro de 2015

Memórias de uma viajante

Lembro como se fosse hoje da euforia que tomou meu coração no dia em que recebi a notícia do meu pai que passaríamos alguns dias de férias na praia. Eu finalmente iria explorar o parque do Beto Carrero World, que rondava as propagandas e meus sonhos infantis.

Eu era a menina retraída de 12 anos, que morava na Avenida São Domingos, a uma quadra do mercado Cidade Canção e tinha ido pouco além das fronteiras do Paraná.

E lá fomos nós, cinco pessoas apertadas e felizes dentro de um carro popular, que provavelmente não tinha ar-condicionado. Mas esse detalhe não me importava, transpirar durante  horas pelas estradas não diminuía a emoção em viajar, conhecer novos lugares, tudo isso era maior do que qualquer temperatura no verão catarinense.

Dessas férias vem o “fundamento” do meu terrível medo dos brinquedos mais ousados nos parques de diversões: gritei com tanto desespero que o barco dos Vikings parou para eu descer antes que uma de suas pontas alcançasse o alto do céu. A partir de então meu pai nunca mais me obrigou a entrar em qualquer outro brinquedo que eu recusasse, não importava qual fosse o preço do ingresso do parque. Me torne a irmã mais velha café-com-leite e o cabide oficial das bolsas e moletons.

Para mim provavelmente essa foi a primeira viagem que experimentei a contagiante ansiedade em me mover pelos desconhecidos lugares além das quadras do meu bairro, sensação que me acompanha em tantas outras experiências fora dos muros do meu cotidiano.

Sim, porque se há uma “ostentação” que priorizo são alguns carimbos no passaporte, desconhecidos lugares pelo Brasil e novas paisagens pela mente. Sem contar o contato com diferentes pessoas, o prazer de experimentar sabores inusitados e situações inesperadas.

Talvez você esbarre comigo calçando os mesmos sapatos por meses, com a bolsa que completa aniversários (e que pode não combinar com a minha roupa), andando pela cidade de bicicleta ou com o carro de alguém, pois até hoje não tive a coragem de gastar 1 centavo para comprar qualquer automóvel a chamar de meu. Contabilizo seu valor em viagens e desisto. Ah, mas sempre terei um novo caso a contar do lugar que acabei de conhecer, nem que seja pertinho de casa, minha mala está sempre à postos para seguir pelos caminhos inexplorados.

São esses lugares que me garantem a certeza de que o mundo que construí para mim mesma, e pelo qual me aficionada às vezes, é pequeno. Que há sempre alguém feliz a sorrir, com quase nada no bolso, um mar azul sem fim a desfrutar e nada a pagar por isso.

Lugares que recordam minha minudez na imensidão de um deserto ou perto da queda de uma cachoeira. Que sempre é possível dar mais um passo, mesmo depois de exausta, a descobrir outra visão da cidade que eu pensei já ter conhecido o suficiente.

E por ai continuo me surpreendendo com o que sempre há a revelar por esse mundão a fora, e seus efeitos dentro deste minúsculo e insignificante ser, que sou eu mesma.

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