Reflexões diante do espelho
Às vezes me pego olhando no
espelho e reparando na minha barriga que está bem longe de ser negativa,
naquele bigode em volta dos meus lábios, que antes não existia e começa a tomar
forma, o chinês.
Também percebo o resultado de uma
das Leis de Newton que aprendi no colégio e vejo fazer efeito no meu
bumbum, a gravidade.
E ai eu me pergunto: se não existissem
espelhos no mundo, lentes ou câmeras a capturar corpos tão esguios e distantes
do que eu posso ser, será que minha barriga não seria exatamente do tamanho correto,
meu bumbum não teria outro caminho que não fosse cair e conforme meus lábios ganhassem outros
contornos não seria a comprovação empírica dos inúmeros sorrisos e gargalhadas
que dei pela vida?!
Mas não. As capas revistas, as
modelos loiras e magerrímas, as blogueiras fitness, os manequins pequenos pelas
lojas estão a me incutir a ideia da beleza “perfeita”, tão inalcançável ao meu sangue latino-americano, trazendo consigo uma certa angústia pela distância que a separa de mim.
Eu realmente não consigo cortar o
glúten só porque corre pelas manchetes da internet
que isso me fará emagrecer, e sofro com a lactose que tive que restringir há pouco
tempo, desde que meu corpo passou a negar a xícara de leite que me
acolhia.
Além disso, sou incapaz de dizer “não”
a uma taça de vinho a acompanhar a conversa sem hora para acabar ou o pedaço
da sobremesa que eu jurei não querer.
Mesmo assim “vira e mexe” estou
perante o espelho contando as celulites que aparecem de tempos em tempos, questionamento
o quanto elas realmente me incomodam ou aborrecem o conceito de beleza feminina
que circunda tantos filmes, comentários,
comparações.
Tenho uma grande e amada amiga
que teve seu primeiro filho há pouco tempo e em diversas oportunidades relatou sobre
as consequenciais da gravidez no seu corpo, em certos momentos num tom de
lamento pelos "estragos" que talvez não serão remediados, porque o
nosso corpo, assim com nós, teima em seguir o rumo da mudança.
Eu nunca fiquei grávida, portanto
não posso compartilhar com ela essa sensação. A única coisa que compartilho é o
olhar apaixonado que o pequenino de 2 anos a lança a cada instante. Esse
rapazinho não se lembrará se a barriga da sua amada mãe era
"negativa" ou seus braços torneados, mas com certeza levará pela vida
o intenso amor que essa mãe linda nutre em seu coração.
Bem, o MEU espelho diz que talvez em
20 ou 30 anos eu não me torne "tia" enxuta, provavelmente levarei no
rosto e no corpo exatamente os anos que ainda irei viver e em cada marca a
tranquilidade do caminho que percorri com a inteireza que o momento me
ofereceu, longe dos padrões de beleza que servem para enriquecer poucos e
enlouquecer muitos.
Quem sabe até lá eu consiga encarar
esse pequeno aparato que me reflete e enxergue apenas o que eu sou, os
sentimentos que me tornam única através dessa figura que meu corpo representa.
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