terça-feira, 20 de outubro de 2015

Reflexões diante do espelho

Às vezes me pego olhando no espelho e reparando na minha barriga que está bem longe de ser negativa, naquele bigode em volta dos meus lábios, que antes não existia e começa a tomar forma, o chinês.

Também percebo o resultado de uma das Leis de Newton que aprendi no colégio e vejo fazer efeito no meu bumbum, a gravidade.

E ai eu me pergunto: se não existissem espelhos no mundo, lentes ou câmeras a capturar corpos tão esguios e distantes do que eu posso ser, será que minha barriga não seria exatamente do tamanho correto, meu bumbum não teria outro caminho que não  fosse cair e conforme meus lábios ganhassem outros contornos não seria a comprovação empírica dos inúmeros sorrisos e gargalhadas que dei pela vida?!

Mas não. As capas revistas, as modelos loiras e magerrímas, as blogueiras fitness, os manequins pequenos pelas lojas estão a me incutir a ideia da beleza “perfeita”, tão inalcançável ao meu sangue latino-americano, trazendo consigo uma certa angústia pela distância que a separa de mim.

Eu realmente não consigo cortar o glúten só porque corre pelas manchetes da internet que isso me fará emagrecer, e sofro com a lactose que tive que restringir há pouco tempo, desde que meu corpo passou a negar a xícara de leite que me acolhia.

Além disso, sou incapaz de dizer “não” a uma taça de vinho a acompanhar a conversa sem hora para acabar ou o pedaço da sobremesa que eu jurei não querer.

Mesmo assim “vira e mexe” estou perante o espelho contando as celulites que aparecem de tempos em tempos, questionamento o quanto elas realmente me incomodam ou aborrecem o conceito de beleza feminina que circunda tantos filmes, comentários, comparações.

Tenho uma grande e amada amiga que teve seu primeiro filho há pouco tempo e em diversas oportunidades relatou sobre as consequenciais da gravidez no seu corpo, em certos momentos num tom de lamento pelos "estragos" que talvez não serão remediados, porque o nosso corpo, assim com nós, teima em seguir o rumo da mudança.

Eu nunca fiquei grávida, portanto não posso compartilhar com ela essa sensação. A única coisa que compartilho é o olhar apaixonado que o pequenino de 2 anos a lança a cada instante. Esse rapazinho não se lembrará se a barriga da sua amada mãe era "negativa" ou seus braços torneados, mas com certeza levará pela vida o intenso amor que essa mãe linda nutre em seu coração.

Bem, o MEU espelho diz que talvez em 20 ou 30 anos eu não me torne "tia" enxuta, provavelmente levarei no rosto e no corpo exatamente os anos que ainda irei viver e em cada marca a tranquilidade do caminho que percorri com a inteireza que o momento me ofereceu, longe dos padrões de beleza que servem para enriquecer poucos e enlouquecer muitos.


Quem sabe até lá eu consiga encarar esse pequeno aparato que me reflete e enxergue apenas o que eu sou, os sentimentos que me tornam única através dessa figura que meu corpo representa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário