A terapia
“O sofrimento é uma mola propulsora e um guia para o trabalho de
transformação”. Sri Prem Baba
Procurei a terapia, como muita
gente, depois de ter alcançado o fundo de um poço por conta de amores mal
amados. Eu era bem jovem, 21 anos. Sempre ficava em cóleras se minhas tristezas
e angústias originavam-se da idade, das paixões errantes ou da minha essência
demasiadamente inconformada.
Em determinado momento a razão de
tantos prantos e olhares evasivos perdeu a importância, o que interessava era descobrir como sair daquele beco e sozinha eu sabia que não conseguiria.
Uma amiga comentou sobre uma
terapeuta, com toda a incerteza que residia em meu peito, peguei o telefone,
marquei o horário, me informei do ônibus que passava perto e fui.
Tempo e dinheiro eram materiais
escassos na rotina dividida entre o estágio, denominação pleonástica para o
couro que me arrancavam com ares de favor, e a faculdade, que se estendia até
às onze da noite. Mas nunca me faltou aquele sentimento que move o mundo em
situações de abstinência: a coragem.
Sim, porque para fazer terapia é
preciso muita coragem, deparar-se com quem realmente somos, a responsabilidade única
e exclusiva pelas atitudes que nos levam aos lugares em que nunca desejamos
estar é duro, chega a ser cruel.
Por isso compreendo relatos de
pessoas que começam o tratamento e simplesmente o abandonam, ao encararem a
constatação de que somos os ditadores de incontáveis desprazeres.
E para mim, um bom terapeuta é
assim, ele retira uma a uma as camadas que você se sobrepõe e de
repente você está lá, sem nenhuma proteção consigo mesmo, frente a frente com
seus temores e com muito a resolver.
Mas não tenha pressa, não se
afobe. Cada um tem seu tempo para tomar suas dores, aconchega-las e seguir em
frente. Nessas situações mais vale ir devagar e sempre do que rápido e desistir.
Talvez essa seja uma das grandes
questões de quem procura um tratamento, a pressa. Quando há apertos que nos
tiram o ar, ansiamos que os sentimentos dissolvam-se instantaneamente e que de
uma hora para a outra o céu tome as cores dos finais de filmes românticos.
Não há mágica, há muito trabalho
e uma disposição descomunal para mudar. Sim, mudar, aquela frase clichê, sabe?!
Só quando a gente muda o mundo muda com a gente.
Eu mudei. Passei a curar minhas
feridas, a me relacionar de outro modo com meus pais, a amar diferente, a
cultivar amizades de outra forma e tantas outras mudanças.
Inúmeras vezes tive epifanias em
relação à determinadas situações, a nítida sensação de estar exatamente no
mesmo ambiente e surpreendentemente me deslocar, vislumbrar tudo sob outra perspectiva,
resolver-me, liberar-me.
Tantos nós do peito foram
desfeitos que não imagino como pude conviver com eles por qualquer tempo que fosse.
Hoje eu sei que as minhas
tristezas existem, que as incertezas irão aparecer quando eu menos esperar, que
não há resposta pronta, mas sinto-me confortável em encarar qualquer labirinto
que se apresente.
Assimilei que o compromisso em ser plena cabe apenas e tão somente a mim, adquiri a capacidade de inserir os
tons na vida que construo e não há aprendizado mais libertador e belo para
qualquer caminho a se traçar.
Que bom que eu estava lá quando sua vida estava começando , que bom ter compartilhado contigo desde do seu primeiro dia de cursinho.
ResponderExcluirQue bom que comeramos, choramos , rimos e até brigamos né?
Mas que bom saber que essa fase foi tão importante para o nosso crescimento.
Que orgulho eu sinto dessa mocinha de olhos verdes e cabelos cacheados que ainda minha memória guarda a lembrança de uma menina, mas que agora és uma mulher.
Realmente não é fácil passarmos por uma terapia , mas o resultado da transformação e a descoberta da verdadeira paz interior compensa cada minuto.
Que muitos milagres cheguem ate você !
Com muito amor, carinho, respeito e honra!
Beijos Belinda.
Dulcinéia
Filha. .. só is fortes reconhecem suas fraquezas. . Parabéns.
ResponderExcluirBel, adorei seu texto!
ResponderExcluirConcordo plenamente com seu conceito de estágio!! Tivemos nosso couro arrancado!!! (hahha)
Ainda bem que nasce de novo!!!! E é justamente por nascer de novo que podemos nos aventurar na jornada intitulada vida, não é mesmo? Rs
Nessa de se aventurar, duas perguntas por vezes nos acompanham. E, pra mim, as respostas são simples, quer ver? Vamos lá:
- Quer saber o motivo do presente? Resp.: Fácil. Dê uma paradinha, e olhe pra trás.
- Quer saber como será o futuro? Resp.: Fácil tb. Dê novamente aquela paradinha, e olhe suas atitudes do presente.
Claro, essas respostas valem pro grosso da vida, têm coisas que realmente fogem do controle rs.
Mas o importante é saber que o mastro dessa jornada está diante de nós, tendo essa noção devemos ter a coragem de conduzi-lo.
E coragem, como vc disse, nos faz olhar para a nossa essência, quem realmente somos (sem esses rótulos, os quais, aliás, não nos levam a lugar algum. Aliás, de novo, nos faz esquecer o real sentido da vida- minha opinião), e aí é que vem o choque com nós mesmos, tarefa difícil, mas necessária para se ter o controle.
Um beijo,
Mi