Verdades sinceras me interessam
Já reparou como as pessoas adoram falar
que temos que dizer nossa opinião, que somos livres para isso, mas quando
acontece é aquela surpresa? Mesmo assim, eu continuo expressando meu sincero
ponto de vista quando solicitado.
Um dia o cabeleireiro me perguntou se
eu tinha gostado do corte que ele fez em mim. Detestei. Qual foi a minha
resposta? Não, não gostei. Ai ele ficou com aquela cara de constrangimento me encarando,
até que eu consegui explicar os motivos para o meu desgosto da forma mais
agradável que encontrei.
Outro momento de sinceridade engraçado foi
com o meu pai. Estávamos em um conhecido restaurante na cidade maravilhosa, o
garçom se aproxima para retirar os pratos, quando com a mesma naturalidade com
que limpa a mesa indaga: “gostaram da comida?”. Meu pai, o sincera-chefe, solta
um belo NÃO.
A gargalhada foi tão inevitável quanto
a surpresa da resposta. Enquanto isso o garçom se afastava cuidadosamente,
antes que se deparasse com outras sinceridades naquela mesa de caipiras (havia
apenas um paulistano por lá, perdido, diluindo nossas caipirices).
Minha mãe segue a mesma política,
dizendo a sua opinião a quem requisitar e quiser ouvir. A combinação explosiva
entre os dois sou euzinha, que cada dia avança um degrau na hierarquia da franqueza.
Às vezes estou eu e meu marido jantando
calmamente e ele me pergunta algo relativamente polêmico, antes de eu ir direto
ao ponto faço um “questionamento preliminar”: você quer a MINHA opinião ou
aquela que VOCÊ deseja ouvir? Essa sensibilidade é fundamental em muitos
momentos para a pacífica convivência social.
Certa vez, uma pessoa muito amada fez
uma observação curiosa sobre essa minha aventura libertária em ser sincera, “nem
todos conseguem se expressar abertamente sobre seus pensamentos e sentimentos
como você”. Confesso que no momento da revelação fiquei estarrecida por alguns
segundos. Dentre todas as minhas verdades, essa ainda não tinha claramente
definido.
Considerando que a gente julga os
outros por nós mesmos, eu sempre presto atenção a quem irei indagar algo e
como.
Se estou decidida em tomar certa
atitude, dificilmente questionarei o que o outro pensa, para não correr o risco
de ouvir sua opinião contrária, seguir com a minha e a pessoa ficar chateada
pelo conselho sumariamente ignorado.
Se preciso de uma opinião franca, mas
já tenho uma ideia relativamente formada, direciono a pergunta, tipo: “você pensa
que agi MUITO errado?” – em outras palavras, eu sei que agi errado, só quero ter
uma visão do outro sobre a “extensão do dano”.
Caso eu ainda não tenha nenhuma ideia ou uma dúvida cruel, exponho a situação, faço a pergunta e respiro fundo, permanecendo
com aquele frio na barriga até que os intermináveis segundos de introdução da
resposta alcancem o ponto central e eu possa me deparar com a verdade do outro,
que clareia minha vida.
A minha conclusão é que para a maioria
das perguntas que fazemos já temos implicitamente o que queremos ouvir,
qualquer coisa que fuja desse roteiro das bem-comportadas respostas nos deixa
meio sem rumo.
Mas, definitivamente, só as opiniões
abertas são capazes de nos levar para novos mundos e horizontes, pontos de
vistas diferentes nos fazem repensar os parâmetros que diariamente impomos na
condução de nossas vidas. Elas são essenciais para a construção de novos
pensamentos e olhares, por isso, verdades sinceras me interessam.
É isso filha. .. mas a maioria das pessoas preferem mentiras sinceras. .Bjs
ResponderExcluirAdorei Beli! Bjs Ju Sallouti
ResponderExcluirA verdade expressa é mais uma expressão de um ponto de vista.
ResponderExcluirA resposta nos fornece mais conhecimento sobre a pessoa que respondeu do que o fato propriamente dito.
Abraço
Show! Tais verdades também me interessam.. o contraponto ouvi uma vez de um "filósofo" que você também conhece. "A sinceridade não serve para nada". Será?
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