terça-feira, 4 de agosto de 2015

Verdades sinceras me interessam

Já reparou como as pessoas adoram falar que temos que dizer nossa opinião, que somos livres para isso, mas quando acontece é aquela surpresa? Mesmo assim, eu continuo expressando meu sincero ponto de vista quando solicitado.

Um dia o cabeleireiro me perguntou se eu tinha gostado do corte que ele fez em mim. Detestei. Qual foi a minha resposta? Não, não gostei. Ai ele ficou com aquela cara de constrangimento me encarando, até que eu consegui explicar os motivos para o meu desgosto da forma mais agradável que encontrei.

Outro momento de sinceridade engraçado foi com o meu pai. Estávamos em um conhecido restaurante na cidade maravilhosa, o garçom se aproxima para retirar os pratos, quando com a mesma naturalidade com que limpa a mesa indaga: “gostaram da comida?”. Meu pai, o sincera-chefe, solta um belo NÃO.

A gargalhada foi tão inevitável quanto a surpresa da resposta. Enquanto isso o garçom se afastava cuidadosamente, antes que se deparasse com outras sinceridades naquela mesa de caipiras (havia apenas um paulistano por lá, perdido, diluindo nossas caipirices).

Minha mãe segue a mesma política, dizendo a sua opinião a quem requisitar e quiser ouvir. A combinação explosiva entre os dois sou euzinha, que cada dia avança um degrau na hierarquia da franqueza.

Às vezes estou eu e meu marido jantando calmamente e ele me pergunta algo relativamente polêmico, antes de eu ir direto ao ponto faço um “questionamento preliminar”: você quer a MINHA opinião ou aquela que VOCÊ deseja ouvir? Essa sensibilidade é fundamental em muitos momentos para a pacífica convivência social.

Certa vez, uma pessoa muito amada fez uma observação curiosa sobre essa minha aventura libertária em ser sincera, “nem todos conseguem se expressar abertamente sobre seus pensamentos e sentimentos como você”. Confesso que no momento da revelação fiquei estarrecida por alguns segundos. Dentre todas as minhas verdades, essa ainda não tinha claramente definido.

Considerando que a gente julga os outros por nós mesmos, eu sempre presto atenção a quem irei indagar algo e como.

Se estou decidida em tomar certa atitude, dificilmente questionarei o que o outro pensa, para não correr o risco de ouvir sua opinião contrária, seguir com a minha e a pessoa ficar chateada pelo conselho sumariamente ignorado.

Se preciso de uma opinião franca, mas já tenho uma ideia relativamente formada, direciono a pergunta, tipo: “você pensa que agi MUITO errado?” – em outras palavras, eu sei que agi errado, só quero ter uma visão do outro sobre a “extensão do dano”.

Caso eu ainda não tenha nenhuma ideia ou uma dúvida cruel, exponho a situação, faço a pergunta e respiro fundo, permanecendo com aquele frio na barriga até que os intermináveis segundos de introdução da resposta alcancem o ponto central e eu possa me deparar com a verdade do outro, que clareia minha vida.

A minha conclusão é que para a maioria das perguntas que fazemos já temos implicitamente o que queremos ouvir, qualquer coisa que fuja desse roteiro das bem-comportadas respostas nos deixa meio sem rumo.

Mas, definitivamente, só as opiniões abertas são capazes de nos levar para novos mundos e horizontes, pontos de vistas diferentes nos fazem repensar os parâmetros que diariamente impomos na condução de nossas vidas. Elas são essenciais para a construção de novos pensamentos e olhares, por isso, verdades sinceras me interessam.

4 comentários:

  1. É isso filha. .. mas a maioria das pessoas preferem mentiras sinceras. .Bjs

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  2. Adorei Beli! Bjs Ju Sallouti

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  3. A verdade expressa é mais uma expressão de um ponto de vista.
    A resposta nos fornece mais conhecimento sobre a pessoa que respondeu do que o fato propriamente dito.
    Abraço

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  4. Show! Tais verdades também me interessam.. o contraponto ouvi uma vez de um "filósofo" que você também conhece. "A sinceridade não serve para nada". Será?

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