Meus cabelos brancos
Eu não sou uma das pessoas mais
vaidosas que conheço. Para ser sincera, nunca tive grandes insatisfações em
relação ao meu corpo e à minha aparência. Um dia me sinto mais bonita, noutros
nem tanto, na média vivo em paz com o espelho.
Só que no dia que eu encontrei o
meu primeiro cabelo branco por acaso, no escuro do banheiro da balada,
senti um certo desconforto, a inquieta constatação da passagem do tempo.
Usamos corriqueiramente o jargão
“ah, o tempo passa”, mas até os 20 ou 30 e poucos anos, a noção dessa passagem
é similar a que temos quando assistimos ao último capítulo da novela, como se “5
anos depois...” magicamente tudo se resolvesse. A vida real apresenta outras
complicações.
A complicação específica naquele
dia, em frente ao espelho escuro, era a minha vida profissional. O
ambiente de trabalho do qual eu fazia parte e o modo como eu desenvolvia
diariamente minhas atividades não me satisfaziam.
Eu oscilava entre constantes
incômodos e alguns momentos de alívio, que acabavam sendo um paliativo para
suportar novos e mais prolongados períodos de vazio.
Algumas pessoas com as quais eu
era obrigada a conviver carregavam valores muito diferentes dos meus e assistir
ao modo como “atuavam” me matava aos poucos.
Depois de dias intermináveis de
angústia, noites mal-dormidas, reflexões e inúmeras conversas, consegui
compreender, assimilar, que não há um único caminho a percorrer para a
realização profissional.
Pedi demissão, me libertei da
prisão que eu havia criado e jogado as chaves fora. Resgatei as chaves,
resgatei a mim mesma. Desde então descubro novos modos de exercer o que sou, as
definições tornaram-se desnecessárias, sou várias dentro de uma só.
Para você, talvez não seja o cabelo branco, mas sim o marido pedindo carinhosamente atenção ao casamento, ou
o filho, ou você mesmo com a vontade de ficar consigo. Seja lá o que for,
preste atenção.
Ouça seu peito, ele tem muito
mais a dizer do que as planilhas exatas do Excell, o plano de carreira do
escritório ou a ideia equivocada de sucesso que você comprou pelas bancas de
revista.
A conta entre as penosas horas
até o final de semana e os dois dias de alegria nunca irá fechar. Decida viver
agora de acordo com o que te faz sentido, crie seu próprio conceito de sucesso a
partir dos vários caminhos que existem em você. Assim, novos cabelos brancos
serão descobertos com a tranquilidade de que o tempo que os trouxe foi
inteiramente vivido.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBê!
ResponderExcluirAdorei o texto e me identifiquei muito!
Ia adorar marcar esse vinho com você!
Beijos
Marina
Que delicia de texto Beliza!! Parabéns!!
ResponderExcluir"A conta entre as penosas horas até o final de semana e os dois dias de alegria nunca irá fechar". Concordo demais. A vida é agora, não em sábados, domingos e feriados.
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