terça-feira, 21 de julho de 2015

Desejos modernos

Desejo que você perca seu celular ou ao menos o esqueça no criado-mudo, só por hoje.

Assim nós seremos capazes de estar nos mesmos lugares, sentindo os mesmos sabores, vendo as mesmas cores e ouvindo os mesmos sons.

Assim eu terei a chance de saber mais sobre seus gostos, medos e desejos sem que um pequeno aparato tecnológico nos coloque em mundos tão distantes.

Terei a oportunidade de olhar nos seus olhos e dizer o quanto você importa na minha vida e a imensa falta que faz durante as incontáveis horas em que só os teclados dos smartphones tem sua atenção.

Erga a cabeça, a vida acontece enquanto seu pescoço se dobra e seus dedos se apressam para a tela colorida, e toda essa vida desperdiçada jamais voltará.

Talvez um dia você descubra que o mundo acontecia, fervia e se transformava enquanto curtia fotos sem sentido, que mostravam a vida irreal de capa de revista que ninguém tem.

Confesso que tenho certa dificuldade em compreender essa fixação por um mundo com palavras abreviadas, fotos desfocadas, poucas vozes e nenhum cheiro.

Talvez essa minha incompreensão seja porque num tempo próximo que vivi, o amor era declarado ao pé do ouvido, com toda a doação que o momento permite e não neste em que muitas vezes é espalhado pelas redes sociais, enquanto a pessoa amada aguarda o espaço que resta entre as pausas da internet.

Nesse mesmo tempo, nosso desprendimento permitia passar em frente à casa de um amigo, tocar a campainha e simplesmente entrar, sem qualquer prévio aviso. Não era necessária a troca de inúmeras mensagens por encontros que raramente acontecem.

Hoje eu proponho que você experimente o mundo sem filtros, cheio de quedas e ascensões que a realidade oferece. Lembre-se que as grandes emoções só podem ser sentidas com as mãos livres e a cabeça ao alto, contemplando o horizonte.

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