terça-feira, 11 de agosto de 2015

Viver além dos rótulos

Tenho reparado nessa nossa tendência em definir as pessoas com as quais convivemos, os sentimentos que nutrimos por elas ou determinadas situações, sendo que, por vezes, ao nos deparamos com a incapacidade de fazê-lo, chegamos a desistir da vivência que podem nos oferecer.

Quantas pessoas titubeiam ou deixam de experimentar uma linda relação amorosa pela ausência do casamento. Realmente acredito que essa instituição é importante, por diversos fatores que não vem ao caso, mas ele deve acontecer naturalmente, pela simples e íntima decisão de dois seres em partilhar as alegrias e as mazelas do dia-a-dia.

E quando o casamento acaba e há aquele senso comum de que os filhos devem repudiar os novos companheiros dos pais e vice-versa (?).

Para quem ainda não sabe, meus pais são separados há mais de 25 anos, casaram-se novamente e eu amo verdadeiramente minha madrasta e meu padrasto. E não haveria de ser diferente. Eles dividem a vida com meu pai e minha mãe e consequentemente fazem parte da minha também. Pensar de outro modo seria excluir um pedaço da minha história.

Ainda que um deles venha a se transformar em ex-padrasto ou ex-madrasta (se é que essas palavras existem) continuarei os amando e convivendo com eles sempre que possível. Eu não excluo pessoas importantes do coração pela ausência de algum “posto”.

Aliás, já presenciei relações belíssimas entre enteados e padrastos/madrastas. Um exemplo bem famoso é do nosso último campeão de surf, aquele que Gabriel Medina chama de pai pelas entrevistas é, aos olhos da lei, seu padrasto.

Minha inveja branca vai também para familiares muito próximos, que conseguiram desenvolver uma linda convivência: a ex-mulher é madrinha da filha do ex-marido com a atual esposa. Isso mesmo, pode ler novamente, você entendeu certo.

E a sogra então? Se você disser que não gosta da sua, terá a compreensão de muita gente. Dia desses pelo parque ouvi uma mulher cuspindo horrores para a amiga sobre a sogra. Não estou ignorando as guerras veladas que permeiam a “posse” do (a) filho (a), mas uma vez superada essa falsa noção de domínio, o amor pode fluir livremente.

Na hipótese de você ainda sentir uma necessidade de se manter socialmente aceito (a), por vezes pode exagerar em algum evento familiar do companheiro, apenas para disfarçar a eventual estranheza que causa um bom convívio (risos!).

É claro que manter uma boa relação não significa a ausência de conflitos, eles são inerentes à nossa natureza. Contudo, conseguimos resolvê-los com mais leveza quando nutrimos sentimentos amorosos e sinceros pelo outro.

Dentre todos esses exemplos, o que me marca é a beleza do amor. Sua grandiosidade está em não ter começo, meio ou fim. Para amar alguém você não precisa deixar de amar o outro. O amor não tem limites, sua infinitude não cabe nas “caixas” que tentamos enquadrá-lo pela vida. Então, vamos jogar todas essas caixas fora e apenas amar, experimentando a vida além de todos os rótulos.

2 comentários:

  1. Amei, Bel!

    Seu texto é tão belo quanto o amor, pois carrega a simplicidade e a doçura.

    E é por meio dessas características que todos podem compreender e senti-lo, vale dizer: tanto o seu texto quanto o amor.

    Beijo e grande abraço,

    Mi

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  2. Ana (Escritório Sinop)12 de agosto de 2015 às 10:42

    Tem o desfecho perfeito. Você conseguiu por em palavras algo que compartilho: não há necessidade de se afastar de alguém porque o elo que introduziu você a essa pessoa não existe mais. Então, a frase "Para amar alguém você não precisa deixar de amar o outro" resume o ensinamento do texto, porque nesse quesito sentimental a soma é melhor que a dedução.

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