Viver além dos rótulos
Tenho reparado nessa nossa tendência em definir as pessoas com as quais convivemos, os
sentimentos que nutrimos por elas ou determinadas situações, sendo que, por
vezes, ao nos deparamos com a incapacidade de fazê-lo, chegamos a desistir da vivência que podem nos oferecer.
Quantas pessoas titubeiam ou
deixam de experimentar uma linda relação amorosa pela ausência do casamento. Realmente
acredito que essa instituição é importante, por diversos fatores que não vem ao
caso, mas ele deve acontecer naturalmente, pela simples e íntima decisão de
dois seres em partilhar as alegrias e as mazelas do dia-a-dia.
E quando o casamento acaba e há
aquele senso comum de que os filhos devem repudiar os novos companheiros dos
pais e vice-versa (?).
Para quem ainda não sabe, meus
pais são separados há mais de 25 anos, casaram-se novamente e eu amo verdadeiramente
minha madrasta e meu padrasto. E não haveria de ser diferente. Eles dividem a
vida com meu pai e minha mãe e consequentemente fazem parte da minha também.
Pensar de outro modo seria excluir um pedaço da minha história.
Ainda que um deles venha a se
transformar em ex-padrasto ou ex-madrasta (se é que essas palavras existem)
continuarei os amando e convivendo com eles sempre que possível. Eu não excluo
pessoas importantes do coração pela ausência de algum “posto”.
Aliás, já presenciei relações
belíssimas entre enteados e padrastos/madrastas. Um exemplo bem famoso é do
nosso último campeão de surf, aquele que Gabriel Medina chama de pai pelas
entrevistas é, aos olhos da lei, seu padrasto.
Minha inveja branca vai também para
familiares muito próximos, que conseguiram desenvolver uma linda convivência: a
ex-mulher é madrinha da filha do ex-marido com a atual esposa. Isso mesmo, pode
ler novamente, você entendeu certo.
E a sogra então? Se você disser
que não gosta da sua, terá a compreensão de muita gente. Dia desses pelo parque
ouvi uma mulher cuspindo horrores para a amiga sobre a sogra. Não estou ignorando
as guerras veladas que permeiam a “posse” do (a) filho (a), mas uma vez
superada essa falsa noção de domínio, o amor pode fluir livremente.
Na hipótese de você ainda sentir
uma necessidade de se manter socialmente aceito (a), por vezes pode exagerar em
algum evento familiar do companheiro, apenas para disfarçar a eventual estranheza
que causa um bom convívio (risos!).
É claro que manter
uma boa relação não significa a ausência de conflitos, eles são
inerentes à nossa natureza. Contudo, conseguimos resolvê-los com mais leveza
quando nutrimos sentimentos amorosos e sinceros pelo outro.
Dentre todos esses exemplos, o
que me marca é a beleza do amor. Sua grandiosidade está em não ter começo, meio
ou fim. Para amar alguém você não precisa deixar de amar o outro. O amor não
tem limites, sua infinitude não cabe nas “caixas” que tentamos enquadrá-lo pela
vida. Então, vamos jogar todas essas caixas fora e apenas amar, experimentando
a vida além de todos os rótulos.
Amei, Bel!
ResponderExcluirSeu texto é tão belo quanto o amor, pois carrega a simplicidade e a doçura.
E é por meio dessas características que todos podem compreender e senti-lo, vale dizer: tanto o seu texto quanto o amor.
Beijo e grande abraço,
Mi
Tem o desfecho perfeito. Você conseguiu por em palavras algo que compartilho: não há necessidade de se afastar de alguém porque o elo que introduziu você a essa pessoa não existe mais. Então, a frase "Para amar alguém você não precisa deixar de amar o outro" resume o ensinamento do texto, porque nesse quesito sentimental a soma é melhor que a dedução.
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