Tempo de saber viver, tempo de deixar morrer.
Este é o último texto que publico
aqui neste blog, “A Prosa do Cotidiano”. Faço isso com satisfação e paz,
compreendendo com gratidão o término de um projeto.
Temos a tendência de interpretar
os ciclos de início e fim das relações, dos trabalhos, ou seja lá do que envolvemos
a nossa energia, a partir dos marcos de apogeu e de declínio. Das minhas
leituras, observações e experiências nos últimos tempos, estou me permitindo
encarar os “começos” e os “fins” sob uma nova perspectiva.
Vou te sugerir uma situação extrema:
imagine que desde o início dos tempos as pessoas sempre tivessem morrido de
forma natural, sem intervenção dos excessos humanos. Agora, pense se todos
esses seres estivessem vivos até hoje? Seria possível ao planeta abrigar TODAS as pessoas que transitaram por aqui? Eu penso que não.
A morte de alguém concedeu espaço
a vida que tenho hoje, e sou grata a isso, da mesma forma que um dia eu darei
espaço a outra alma. O ciclo da vida-morte-vida é inevitável.
Hoje este blog morre e meu sentimento
é que ele iluminou algo que pulsava em mim, a escrita. A palavra
foi desperta e agora se manifesta em qualquer lugar que esteja: no banho de
mar, no caminho dentre as árvores com a companhia silenciosa do Danilo, pelas
nuvens que cruzam o avião, com meus sobrinhos no colo. Basta manter o sentido
aguçado e a perspicácia de anotar sempre.
Gabriel Gárcia Márquez, eu seu
livro “Viver para contar”, relata que em meio às angústias do ofício um amigo
lhe aconselhou “só escreva se não puder viver”. Eu sou assim hoje, escrevo para
viver. Talvez meu corpo físico resistisse a tempos sem escrita, mas minha alma
sucumbiria sem seu alimento diário para a manifestação da sua existência.
Portanto, me manterei escrevendo,
em outro projeto que em breve divulgarei, e para isso digo carinhosamente “adeus”
a este blog.
A cada um
de vocês, que me acompanharam nesse percurso, muito obrigada. A
palavra cura, a quem escreve e a quem lê. É um meio de conceber forma aos pensamentos
e aos sentimentos que vagam entre as pessoas, entre os espaços, pelo mundo.
Nossa prosa irá continuar, sempre.
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